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Entrevista de Sheilla Castro para o 'Portal A TARDE'

Sheilla Castro fala do monopólio do futebol sobre os outros esportes. 
Sheilla já ganhou tudo com a seleção brasileira, mas a jogadora, que é um dos expoentes do vôlei na atualidade, sabe que ainda terá muitos desafios pela frente na carreira. Centrada, ela não se deslumbra e gosta de dar um passo de cada vez. Mira primeiro o Sul-Americano, do qual nossas meninas são francas favoritas, que começa dia 18 e dará vaga para o Mundial  do ano que vem, única competição importante que ainda não venceu pelo Brasil. A Olimpíada do Rio é um sonho, mas só acontecerá em 2016.
Em entrevista exclusiva ao A TARDE, a bela assume os cuidados com o passar do tempo - chegou aos 30 anos -, para que a carreira siga longeva e qualificada. Além disso, também fala sobre o monopólio do futebol em relação aos outros esportes e a disputa da próxima Superliga.
A partir da próxima semana (entre 18 e 22 de setembro),  o Brasil disputará o Campeonato Sul-Americano, que, além do título continental, vale a vaga para o Mundial da Itália, em  2014. Quais as perspectivas?
Eu quero muito esse título porque vou para o meu quarto Mundial e tenho duas pratas e nenhum ouro. Mas temos de pensar passo a passo. A Fabi (líbero) até brinca e diz que estamos em uma idade que não dá pra pensar tão longe. Sabemos que somos o time mais forte, mas esse pode ser nosso inimigo. Não podemos deixar que essa superioridade atrapalhe. Não podemos entrar moles, porque vale nossa classificação.


No início do mês, o Brasil conquistou o seu nono título do Grand Prix. O resultado pôs fim a um jejum de três anos de título do torneio. Qual foi a importância da conquista, além, é claro, de seu pentacampeonato do torneio (NR: ela venceu em 2005, 2006, 2008, 2009 e 2013)?
Esse ano é de renovação para todas as seleções: nós, a Rússia, Estados Unidos, Polônia.. a conquista comprova que o trabalho feito pela comissão técnica está no caminho certo. Ou seja, estamos renovando a seleção e mantendo o nível com conquistas. Pela minha experiência no Grand Prix, acho que ficaram faltando apenas pequenos detalhes para a gente ganhar as últimas edições. Não vencemos, mas ficamos com o segundo lugar. Ou seja, isso mostra que temos um grupo forte, precisávamos apenas de alguns ajustes para conseguir um novo título. E foi o que ocorreu.



A Seleção Brasileira é a atual bicampeã olímpica e você esteve em ambas as conquistas, em Pequim e Londres. Atualmente, o time passa por uma reformulação. Acredita que o país está no caminho certo para o tri nos Jogos do Rio em 2016? E você, aos 30 anos, sonha estar presente?
Ainda falta muito tempo para os Jogos Olímpicos do Rio. Temos que pensar em um ano de cada vez.  Conquistamos o Grand Prix, agora vem o Sul-Americano, que classifica para o Mundial, e a Copa dos Campeões. Temos que ter objetivos a curto e a longo prazo para chegarmos bem às Olimpíadas. Temos a vantagem, que em 2016, jogaremos em casa. Mas, ao mesmo tempo seremos pressionadas para ter que vencer. Isso é bom. Bota pressão no grupo para sempre estar bem. Queremos buscar o tri e temos totais condições de ganhar. Não penso muito na idade. Cada ano que passa é diferente. Ano passado houve a conquista de Londres. Se continuar conquistando títulos ao envelhecer está tudo bem, mas falei com o preparador físico da seleção que estou ficando mais velha. Tenho que tomar alguns cuidados. Nunca me preocupei com a alimentação porque não tenho tendência a engordar, mas estou procurando me cuidar mais. Quero tentar aumentar minha vida útil no vôlei.



Você chegou à seleção num momento delicado, em 2002, na conturbada participação no mundial da Alemanha, quando a desistência das jogadoras mais experientes abriu espaço para promessas como você. Como você vê o fato de aquela jovem promessa ter se tornado referência na seleção?
Acho que tudo fez parte de um ciclo. Feliz por ter permanecido tanto tempo na seleção e mantendo um bom nível. Naquela época, houve esse problema e posteriormente foi superado. Tive a oportunidade de mostrar meu jogo e fui brindada com esse ciclo tão duradouro no time. Ao mesmo tempo, sei que hoje a veterana jogadora Sheilla é tida como símbolo para as mais novas. Então, fico feliz por isso.



Mas nem só de glórias você viveu. Como foi o fato de conviver com a fama de "amarelona" que a seleção brasileira conquistou após as derrotas na Olimpíada de Atenas, no Mundial-2006 e no Pan-2007?
Uma coisa que eu sempre tive certeza é que aquela equipe não era amarelona, que as jogadoras não eram amarelonas. Acontece que o nosso momento não era no Pan e nem no Mundial. A Rússia e Cuba trocariam tudo pela Olimpíada. A própria Gamova (estrela da Rússia e principal carrasca do Brasil nos últimos anos) já disse que vai estar na próxima Olimpíada porque quer ganhar o ouro. Gostaria de ter os dois títulos, mas prezo mais uma Olimpíada que um Mundial.

No último mês, o Brasil celebrou cinco anos da conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim (2008). Qual foi a importância daquele título para a geração feminina e para o vôlei nacional em si?
Foi um momento de afirmação do vôlei feminino. Provamos que, assim como os homens, que brilhavam nas quadras, também poderíamos fazer bonito. Foi o que fizemos. Acho que deu um impulso ao vôlei como o segundo esporte brasileiro. Hoje, o futebol ainda leva a melhor. Mas consolidamos nosso espaço no coração do brasileiro, que dá mais valor ao nosso esporte hoje em dia.


Em recente entrevista, você disse que a imagem do atleta do vôlei é mal explorada no Brasil. O que dizer com isso? O que acha que pode ser feito?
Exatamente. Tirando o pessoal do futebol, os outros não têm o mesmo espaço. Sempre pensei em explorar mais a imagem, não só após Londres (ouro nas Olimpíadas), mas acontece que o espaço é limitado. E não falo só do vôlei. Em outros países, trabalha-se melhor isso. O Brasil não há essa cultura de usar a imagem dos atletas. Até por isso, quando posso me associar a trabalhos sociais, que envolvam marketing, participo. Faço o possível. Sou tímida, não topo qualquer coisa. Mas o que puder fazer para ajudar no crescimento do vôlei, vou fazer. Por isso, o trabalho de marketing é importante, porque atraímos mais gente. Só jogando é mais difícil, já que o vôlei não passa sempre em canal aberto. A quantidade de pessoas que acompanha  acaba sendo restrita.

Na Copa das Confederações, o Brasil viveu um período de manifestos espalhados por todo o país. A critica era por conta, principalmente, dos altos gastos com os estádios criados para o competição. Tem receio que algo semelhante ocorra durante a próxima Olimpíada?
Acredito que daqui para lá, tudo estará pronto. Torço e espero por isso. Os protestos, na minha humilde opinião, foram válidos. Afinal, vivemos numa democracia. Toda forma de expor sua opinião é válida, desde que não haja violência nessa explanação. Isto eu condeno. Mas acho que os protestos deram um sinal aos nossos governantes que estamos atentos e cobramos melhorias no país. Não apenas no nosso esporte, com construção de novas quadras, politica esportiva nas escolas, ênfase no marketing, mas, sim, na saúde, educação, segurança...  Ainda faltam pouco mais de três anos e temos tempo para não passar um vexame mundial.


No próximo dia 27 será iniciada a temporada da Superliga Feminina. Você será a capitã do Osasco pela primeira vez. Como é lidar com isto?
Fiquei sabendo há pouco mais de uma semana. Estou super feliz com a confiança da comissão técnica depositada em mim. É a primeira vez que serei capitã de um time. Mesmo não sendo capitã, tenho mania de falar com o árbitro. É uma responsabilidade gostosa, natural, mas nada demais além do que eu já fazia (em quadra). Agora, vou criar o grupo no whatsapp (aplicativo de mensagens no celular) para passar os horários dos treinos para todo mundo. Não há desculpa para atrasos (risos).

Seu time se reforçou. Trouxe a sérvia Sanja Malagurski e a italiana Caterina Bosetti. O que esperar do torneio?
A cada ano a Superliga fica mais equilibrada. Isso é fato. O Vôlei Amil (SP), por exemplo,  vem com mais força do que na temporada passada, a Unilever (RJ) continua forte. A nossa equipe se reforçou com estrangeiras, o Sesi (SP) se fortaleceu e o Praia Clube (MG) também está forte com estrangeiras e com a chegada da Mari. A tendência é que tenhamos uma Superliga ainda mais disputada e equilibrada.  Vai ser complicado. Quanto aos nossos reforços, ainda não trabalhei com nenhuma das duas, mas conheço ambas das competições e posso dizer que são jogadoras bem simpáticas. A Bosetti é um pouco mais tímida, mas, tanto ela quanto a Malagurski sabem que o Osasco é um dos maiores times do mundo e com certeza, chegaram para somar.


Nos últimos quatro anos o Osasco faz a final da Superliga com a Unilever, do Rio de Janeiro. Cada time venceu duas edições. Este ano, será o tira-teima? Existe uma rivalidade entre as duas equipes?
(riso) Engraçado isso. Antes de chegar ao Osasco, atuava lá (2010 a 2012). São duas equipes fortes e de tradição. Então é natural estarem sempre brigando por titulo. Tenho amigas em todas as equipes, então não muda nada enfrentar o Rio de Janeiro. Mas é claro, que os times têm uma rivalidade grande. Ninguém quer perder, né? Então esse ano, será difícil. Se nós assim como elas chegaram à final, espero que desta vez, levemos a melhor (NR: ano passado a Unilever venceu).



Como você analisa o fato de Salvador não ter um ginásio poliesportivo?
É triste. Salvador é uma cidade tão bela, com tantos bons esportistas. Daí já saíram grandes jogadores do vôlei nacional, como o Ricardo, o Paulo Emílio (ambos de praia), então é lamentável. Mas não é algo isolado da Bahia. Tem várias outras cidades no país que carecem de investimento. É preciso vontade de fazer com que o esporte cresça para realmente evoluirmos.



Você trabalhou por dois anos com Bernardinho na Unilever. Atualmente, é treinada por José Roberto Guimarães na Seleção. Como é ter sido treinada por essas duas lendas?
Sensacional. Privilégio que, certamente, muitos brasileiros esportistas ou não queriam ter. Eu tive e sou muito feliz por isso. Acredito que evoluí não apenas como atleta mas também como pessoa. Apesar de características e personalidades diferentes, o Bernardinho mais 'estourado' e o José, um pouco mais tranquilo, são grandes seres humanos. 

Em abril deste ano, você se casou com Brenno Blassioli. Como madrinhas, escolheu suas companheiras de Seleção, Adenizia, Thaisa e Fabiana Marcelino. Como é a relação entre as jogadoras dentro e fora das quadras?
É a nossa segunda família, a gente convive mais com essas jogadoras que com nossos parentes. Em todos os clubes eu tenho amizade, no Osasco, Vôlei Futuro... O tempo que a gente está na seleção é gostoso, mas passa rápido. Então é muito bom esse laço de amizade.


E a rivalidade com outras seleções de ficar olhando feio em hotel, por exemplo, provocando-se. Existe?
Não, não, não... Lógico que tem algumas jogadoras, como a Gamova, que a gente percebe que não gosta muito do Brasil. Ela passa reto e não cumprimenta, mas aí é problema dela, eu não ligo.



Após se sagrar bicampeã olímpica, você deixou a timidez de lado e posou para ensaio sensual da VIP. Como foi a experiência?
Foi uma oportunidade legal que surgiu. O pós-olímpico é muito visado, aproveitei bem, pois passaria rápido. Foi o momento certo, eu acho. Sou tímida mesmo, e acho que se fosse algo filmado não daria para disfarçar a timidez, mas em fotografia dá (risos).. A parte mais complicada foram as "caras e bocas sensuais" para as fotos. A fotógrafa dizia em alguns momentos: 'olhe para mim e finja que sou seu namorado'. Deu certo e aos poucos me soltei e entrei no espírito sensual (risos).  Ah, a maioria aprovou, né?   Acho que 95% das pessoas adoraram, me elogiaram, mandam mensagens, brincam que tenho que seguir carreira de modelo.



Pensa em posar nua?
É difícil falar que não. Nunca digo nunca. Mas não penso nisso agora.



E o assédio masculino? Já levou muitas cantadas?
É complicado. Sempre tem aquele torcedor gaiato. Mas eu ignoro. Não dou trela.

Você é torcedora declarada do Atlético-MG. Aposta ainda na recuperação do Galo ou o Cruzeiro vai seguir sua caminhada rumo ao título brasileiro?
É uma paixão de família, sempre torci, desde criança. Todo mundo da minha família adora ir ao estádio, torce e vibra muito com o Atlético. É um time que sempre nos deu muita alegria. Consegui acompanhar todos os jogos da Libertadores. Acho que ainda dá sim para levantarmos esse título. Nada de Raposa (risos).

Fonte: (Portal A TARDE)
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