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A medalha é de prata, mas o time é de ouro!

11 de maio de 2014 - Zurich, Suiça: O apito estridente soou. O jogo acabara. Teoricamente, era o fim de apenas mais uma partida. Para o Molico/Osasco não. O último ponto encerrou não só a participação no Mundial de Clubes, encerrou também a temporada 2013/2014. Infelizmente não foi como esperávamos ou como a equipe merecia. Perdemos. 3X0 para o Dínamo de Gamova. A medalha é de prata, mas o time é de ouro. 




Sou estudante de jornalismo e desde sempre escuto falar que jornalismo é sinônimo de imparcialidade. Pois bem, não gosto disso. Não sei fingir indiferença quando se fala de esporte, menos ainda quando o assunto é vôlei. Vôlei não é frio, vôlei é quente. Dessa forma, meu texto não tem nada de imparcial, ao contrário, está impregnado pela visão da torcedora apaixonada que sou. Pelo olhar de quem gosta do que escreve e que justamente por gostar enxerga os acontecimentos com o carinho de quem conhece a luta.  

Voltemos alguns ponteiros do relógio, algumas folhinhas do calendário...

04 de setembro de 2013 - Osasco, São Paulo: Acontecia na sede da Nestle, em São Paulo, a apresentação oficial do time para a temporada. Mudanças diversas estavam por vir. Mudara o uniforme, o ginásio e produto patrocinador (antes sollys). E, como de praxe, alguns rostos novos integravam o grupo que se apresentava como osso duro de roer. Sheilla viu em sua camisa a tarja que lhe coube muito bem: a de capitã. Thaisa, Adenízia, Fabíola e Camila Brait permaneciam, com todos os méritos, na titularidade de suas respectivas posições. 



A grande novidade ficou por conta da contratação de duas estrangeiras que desembarcariam no Brasil para jogar nas quadras osasquenses. Caterina Bosetti (Itália) e Sanja Malagurski (Sérvia)  viriam ocupar as posições que outrora pertenceram as campeãs olímpicas Jaqueline e Fernanda Garay. 

Não demorou para que torcedores, atletas e dirigentes de outros clubes cuspissem desesperadamente suas opiniões precipitadas. Segundo eles, a equipe osasquense sofrera uma grande baixa. Não integrava mais o seleto grupo dos favoritos. Não impunha mais medo. 

O Molico/Osasco, por outro lado, fechou-se às críticas maldosas. Trilhou outro caminho, seguiu fazendo o seu. Foi uma questão de tempo para que o grupo, cada vez mais unido e entrosado, desse os primeiros indícios de que essa temporada seria única. Cada adversário se viu obrigado a sucumbir diante da força osasquense por pelo menos duas vezes. Sim, foram 28 vitórias con-se-cu-ti-vas só pela Superliga Feminina, ratificando assim o maior recorde da história da competição. 


Sobre despedidas
Por infelicidade do acaso o tão almejado bicampeonato no Mundial não veio. Quem acompanha sabe do quanto esse time batalhou, do quanto dedicou-se, do quanto esforçou-se. Estava estampado no olhar de todas a vontade de vencer. E no mundo não havia quem merecesse mais. 

Quanto ao desempenho da equipe na competição é possível sintetizar numa palavra: digno. Afirmo sem medo de errar que naquele momento específico cada uma fez o melhor que pode. Uma lástima os fatos terem nos contrariado, no entanto, essa prata é recebida com muito apreço. É deveras encantadora a decência com que o time lida com as situações, sejam elas positivas ou negativas. 

Tem torcedor com mania de enxergar nos atletas heróis, desses que vencem sempre e podem tudo. A estes tenho uma péssima notícia: as coisas não são assim! Por trás de cada jogadora há uma pessoa comum, com urgências e limitações. Pessoas que assim como nós, estão sujeitas as mais diversas peripécias da vida: sucessos, fracassos, alegrias, tristezas, triunfos, sorrisos, lágrimas. Não ousaria dizer que nossas meninas não são heroínas. Sim, elas são. Mas heroínas de carne, osso e coração. 

Além da papelada, ao afirmar-se no vôlei o atleta assina outro contrato. Quimérico, mas de regras claríssimas: hora vai ganhar, hora vai perder. Torcedor também assina contrato, com regras igualmente explícitas: hora vai ver ganhar, hora vai ver perder. Faz parte do belíssimo pacote esportivo, não dá para ganhar todas. E o Osasco, de fato, não ganhou todas. Perdemos 8 e vibramos noutras 44 partidas, das 52 que totalizaram a edição.

Não é preciso entender muito do assunto para reconhecer a magnitude da temporada. Se quiserem dados, posso lhes mostrar os números positivos que marcaram essa jornada: 5 pódios, 4 finais disputadas, 2 títulos (Paulista e Copa Brasil), 2 vice-campeonatos (Mundial de Clubes e Campeonato Sul-Americano) e 1 bronze (Superliga).  Uma campanha vitoriosa, pelas tantas conquistas sim, mas principalmente pelas pessoas vitoriosas que estiveram juntas pintando de Osasco o vôlei nacional.

Não devo deixar de parabenizar a todos aqueles que fizeram de 2013/2014 uma temporada inesquecível. Atletas, comissão técnica, torcedores, dirigentes, assessoria, e profissionais diversos. Foi tudo lindo! O José Liberatti é o palco mais luminoso do voleibol.Obrigada por cada vitória, cada derrota, cada sorriso, cada lágrima derramada. Obrigada por me permitirem momentos inesquecíveis que só conhece quem é dotado de um coração torcedor. 


A todas e a cada uma, meus sinceros agradecimentos. Obrigada pelo empenho, respeito, atenção, carinho. Obrigada por vestirem a camisa e a alma do time. Sheilla, sua avó tem mesmo razão, você é a melhor do mundo! Thaisa, sua competência é ainda maior que você.  Adenízia, personificação da alegria e vibração. Fabíola, conduzindo toda bela orquestra há um maestro. Caterina, você vai longe, garota! O mundo ainda ouvirá falar muito em você. Sanja: No Brasil brilhou uma estrela sérvia. Camila Brait, gigante! não do tamanho da sua altura, mas no tamanho da sua capacidade. 

Dessa temporada, carrego as melhores e mais bonitas lembranças. A voz corta, os olhos enchem de lágrimas, é difícil aceitar que acabou. Mais difícil aceitar que novas mudanças acontecerão, que não manteremos essa mesma formação eternamente. A próxima temporada é uma incógnita. As que ficam: a luta continua. As que saem: deixarão saudades. Nutro carinho e admiração em proporções diretas por essas meninas. Cada uma me conquistou e conquistou outros tantos fãs/torcedores de modos diversos. Estejam onde for minha torcida se manterá intacta por cada uma. Independente de time, de distância, de país... 

Esse grupo é sim osso duro de roer. Essa formação figura no topo da lista de leveza e grandeza. Não queria me valer de clichês, mas não consigo evitar esse: Há coisas que devem acontecer, pessoas que precisam se conhecer. E o tempo toma para si a tarefa de proporcionar esses encontros, ou como diria o filósofo holandês Baruch Spinoza: "os bons encontros". E assim foi... 

Valeu molicats!

(Texto: Andressa Figueiredo)
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