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Mais um sobre o Osasco, sobretudo, sobre a Sheilla


O último apito do árbitro ecoou. A mão direita apontava um vencedor. A partida terminara. Atônita, com a vista turva, eu olhava para aquela cena e não acreditava nas imagens que se desenhavam diante dos meus olhos. Quisera eu que tivesse sido só um sonho. Sonho não, pesadelo. Do qual logo todos nós iríamos acordar e correr para o ginásio ou ligar os televisores e ver um jogo diferente. A voz irritante do narrador me recobrou os sentidos. Não era sonho, nem pesadelo. Era pior, era real: estávamos fora de uma final que  a muito fazíamos parte. 

O que fazer com o choque que paralisou-me completamente? O que fazer com as pernas trêmulas e a unhas roídas? O que fazer com a dor excruciante que invadiu meu coração tornando o dia assim, tão sem graça, tão sem cor? O que fazer com as lágrimas que escorrem livres pelo rosto enquanto escrevo esse texto? O inacreditável aconteceu. É triste acompanhar seu time por um set, uma partida, uma temporada, uma vida e vê-lo perder. Mais difícil, certamente, é ser jogadora desse time, dedicar-se tanto, batalhar tanto, doar-se tanto, chegar tão perto e precisar admitir que infelizmente não deu, que faltaram alguns poucos (e decisivos) degraus. 

Nada mais inapropriado agora do que querer saber o que deu errado, apontar culpados, responsabilizar técnico, jogadora X ou Y pelo ocorrido. No voleibol é assim, qualquer tropeço mínimo pode ser fatal. Perder dói e é difícil, sobretudo, quando estamos acostumados a vencer. Entretanto é preciso que saibamos encarar a derrota de frente para crescer com ela. Faz parte do magnífico pacote esportivo, não dá para ganhar todas. Quem disse que seria fácil? Aos torcedores: se não pode com o pote, não pegue a rodilha. 

Sei que neste momento nada poderá consolar as jogadoras e a torcida. Mas também não é este meu propósito. Nunca gostei de ser porta voz de notícias ruins. Longe de mim! Portanto, neste texto, quero discorrer não sobre esta derrota, mas sobre as outras tantas vitórias que fizeram do Molico/Osasco um time vitorioso. Vitorioso não apenas pelos jogos e títulos conquistados. Vitorioso, pelas pessoas vitoriosas que estiveram juntas nesta temporada. 

Primeiramente, preciso parabenizar aqueles que compõe este grupo -jogadoras, comissão técnica,  assessoria e torcedores- pelo ponto forte que nos une: garra! Se o time não fez hoje sua melhor partida, tenho certeza que cada um(a) fez o melhor que pode naquele momento específico em que estava em jogo não só o físico das atletas, mas também o emocional de toda uma nação de torcedores. 

Hoje, mais do que nunca, tenho vontade de gritar para o mundo que sou osasquense. Que me orgulho dessa equipe que já me proporcionou incontáveis alegrias. Obrigada meninas, vocês são lindas, lindas, lindas! 

A tão almejada medalha dourada não virá, mas nem mesmo isso é capaz de minimizar o brilho de uma temporada que foi desenhada com recordes e sucessos. Vocês são sim campeãs! Campeãs para cada um dos seus muitos torcedores que vibraram com vocês 28 vezes seguidas, só pela Superliga. Ora, campeões não são feitos exclusivamente de pódios e medalhas. É preciso mais, é preciso raça, união, experiência, alegria, determinação, coragem, persistência, amor... E essas virtudes todas, vocês costumam esbanjar por aí. Campeãs! Nesta final, as verdadeiras campeãs não estarão na quadra da final. Todavia deixaram marcas fortíssimas na história da competição e gravaram seus nomes, com letras maiúsculas, no coração de todo torcedor fiel. 

Seria preciso inventar novas palavras para descrever o tamanho da minha admiração por todas e por cada uma de vocês. Nem tento fazê-lo com as já existentes, sou perfeccionista demais. Deixo então meus agradecimentos mais sinceros e parabenizo (novamente) pela seriedade com que o time sempre se manteve, pelo respeito que demonstraram aos adversários, pela simpatia com que tratam a torcida (inclusive, a do rival) e, principalmente, pela união de vocês. Cabeça erguida, bola pra frente. A vida segue...


E a nossa capitã: Sheeeeeeilla!
Escrever para mim sempre foi um desafio. Escrever sobre a Sheilla, então, é ainda mais complicado, como uma partida contra a seleção russa em Olimpíadas ou uma final de campeonato: árdua, dificílima, um exercício de superação. 

E como fazê-lo sem recorrer aos clichês baratos que habitam o coração de fã/torcedora que sou? Como falar dessa jogadora completíssima, que fez hoje a melhor partida da edição. Que tomou para si a responsabilidade e, sozinha, anotou 25 incríveis pontos. Como expor em palavras a alegria que senti ao saber que ela permaneceria na equipe para a atual temporada? E mais, que sustentaria uma tarja que lhe coube perfeitamente: a tarja capitã

Acompanho a carreira da eterna camisa 13 há muito tempo e ainda me surpreendo. Quando penso já ter visto sua melhor fase, ela exibe outras facetas, mostra que é sempre possível melhorar e prova estar empenhada nisso. A cada ano, vejo uma Sheilla mais madura, consciente, experiente, técnica. Sei do quanto sou suspeita para falar, mas a evolução da nossa oposto na temporada é fato incontestável. Lembro-me que há alguns anos, ela dizia não estar satisfeita com sua defesa. Hoje, figura no ranking das melhores no fundamento. 

Não são poucos os títulos que compõe a estante gloriosa de Sheilla Castro, foram Olimpíadas, Grand Prix, Superliga, Copa dos Campeões, Sul-americano, Campeonato Paulista, Copa Brasil, Mundial de Clubes, Campeonato Italiano e tantos outros, que seria preciso muito mais tempo e espaço do que eu disponho para elencar todos eles. O tropeço de hoje, não diminui uma carreira que se alicerça em sucessos. 
Ê Sheillinha, me enche de felicidade assistir seu crescimento, te ver jogando solta, sorridente, chamando a responsabilidade e decidindo, coisa de quem sabe o que faz. Capitã! Acredito em você, acredito no grupo forte e bonito que é o Molico/Osasco. Meu grito será sempre o de "vai Sheillinha". Vai Sheillinha! Vai à busca dos teus sonhos que você é prova viva de que os obstáculos estão aí para serem superados. Vai Sheillinha! E vai sorrindo, porque seu sorriso é doce e verdadeiro, cativa e encanta os que cruzam seu caminho. Vai Sheillinha! Vai com fé, força e determinação, porque você "é a melhor do mundo, deixa todo mundo para trás" e, esperta que é, saberá dar a volta por cima em qualquer situação. 

Parabéns Sheillinha! Parabéns por toda vitória, por toda derrota, pode toda luta. Parabéns pela bonita campanha que fez no Osasco. Você é a estrela mais reluzente que o vôlei mundial já conheceu.


Maestrina Fabíola, 
Foram estas as mãos condutaras de todos os triunfos conquistados. Dir-se-ia que a Fabíola era privilegiada em sua missão, uma vez que tinha como opção as melhores atacantes que uma levantadora podia desejar. Mas o bom ataque não basta, é preciso saber administra-lo, e a Fabíola o fez e fez sorrindo. Fez com toda a simpatia e humildade que lhe são peculiares. Ela que junto à Adenízia é destaque no quesito vibração. Parabéns Fá!


Sanja, Sanja! 
Me custou aceitar a contratação de ponteiras estrangeiras. Na minha cabeça, ninguém poderia substituir as que tínhamos antes. E a Sanja, de fato, não substituiu ninguém. Fez melhor, conquistou o próprio espaço nas quadras e no coração da torcida. E quem não vibrou com a competência da nossa número 1, que com riso de menina, não tomou conhecimento do Rio de Janeiro e conduziu nossa equipe à vitória diante do maior rival ainda na fase classificatória? Sanja vestiu a camisa osasquense, enquadrou-se perfeitamente ao ritmo alegre do grupo. Foi o Osasco, sim, que contratou a sérvia certa. A sérvia mais brasileira desse mundo! Parabéns Gugi! 


É Caterina! É Caterina! 
Da mesma forma que se deu com a Sanja, depositei pouca confiança na Bosetti.  Do mesmo modo, eu estava enganada, redondamente enganada.  E ainda bem que estava. Apesar da pouca idade, Caterina vestiu a camisa 9 osasquense e assumiu a responsabilidade de jogar em um time grande. E o fez muito bem, fez com a habilidade de quem, afora a timidez, faz valer o status de uma das maiores revelações do vôlei mundial. Com um olhar aguçado para o bloqueio, nossa italiana foi responsável por muitos gritos eufóricos. Parabéns, Cate! 

Gabi, Gabi, Gabi!
Da base do Osasco emergem grandes e jovens talentos do vôlei nacional. No banco do Molico/Osasco temos uma ponteira tão completa, que não deixa nada a desejar se comparada a qualquer outra titular da mesma posição. Ê Gabi, apesar dos teus 1,75 (tão frisados pela mídia) você é uma gigante. Uma gigante de passe certeiro. Que sempre se mostrou efetiva quando acionada, que conseguiu reverter situações críticas e ajudar nosso time em tantas vitórias, fazendo jus aquele velho (e verídico) dito popular: "tamanho não é documento". Parabéns! 


Un, uh é paredão! uh, uh é paredão! Competência, seu nome é Thaísa Daher. A camisa 6 do Molico/Osasco e da seleção brasileira provou nesta temporada porque integra o seleto grupo de jogadoras mais bem sucedidas da história do vôlei. É o tipo de jogadora que quer bola a todo momento, que gosta de ver "sangue nos olhos", que chama a responsabilidade e que cresce ao longo da partida. Impecável define o desempenho da central que com seus 1,96m de altura e indizíveis quilômetros de competência levanta a torcida e derruba adversários. Parabéns!


É A-de-ní-zia! É A-de-ní-zia!
É impossível pensar na Adê e imediatamente não sorrir. Se possível fosse personificar a alegria, dar a ela um rosto, uma voz, uma personalidade, ela seria exatamente assim como a Adenízia. É a nossa camisa 5 o motor da vibração de Osasco, vibração que sempre foi o grande diferencial da nossa equipe. Ela que é cria da casa, que há tempo veste essa camisa que não consegue se imaginar jogando em outra equipe. É a que joga junto com a torcida, disposta a correr a quadra inteira para comemorar um ponto. Que sabe equilibrar doçura e agressividade em quadra de modo impecável. Parabéns Adê! 


Camilinha Brait,
Outra filha de Osasco. Nossa pequena gigante, que com autoridade de campeã faz as mais difíceis, as mais improváveis, as mais espetaculares defesas. Lá vem bomba da quadra adversária, torcedor fecha os olhos, é bola indefensável. Seria indefensável, mas é aí que aparece todo o potencial da defesa osasquense que se sustenta, sobretudo, na figura da Brait. Posição de líbero pode até ser complicada, mas a Camila a realiza com leveza e com competência de quem nasceu para isso. Parabéns!



À comissão técnica: parabéns pelo trabalho. Um time que coleciona tantas vitórias precisa de uma base técnica forte. E tenho certeza de que isso existiu no Molico/Osasco. Ao Luizomar que é sem dúvidas, um dos maiores nomes do vôlei brasileiro, parabéns pela seriedade e pelo respeito com que trata as suas jogadoras. Este é mais um diferencial de peso deste grupo. Às meninas que compuseram o banco, parabéns por se esforçarem para corresponder as expectativas quando acionadas, por saberem aproveitar todas as oportunidades de ajudar a equipe. Marjorie, Larrissa, Juliana, Mariana, Dani Terra, Lia, Talita, Ana Maria, Ingrid e Paula vocês foram e são fundamentais.



Muitos, maldosamente, questionarão: "de que adiantou ter acumulado tantas vitórias para perder na decisão?". Para estes eu afirmo, sem qualquer hipocrisia, que cada uma dessas vitórias foi de grande valia. Nenhuma delas veio a toa. Cada uma foi fruto de muito empenho, conquistadas com luta. Cada uma delas arrancou sorrisos diversos dos que estão afetivamente ligados a este clube. A trajetória é de suma importância. Veja bem: não estou afirmando que este jogo nos era indiferente. Nada disso. Só quero elucidar que nada poderá dissolver o mérito de uma campanha vitoriosa. Até os grandes caem. 

Ser torcedor é antes de qualquer coisa acreditar. Torcedor é aquele que ama o time que escolheu. É gritar, vibrar, comemorar e chorar junto. É deixar de lado todo e qualquer compromisso para ver o time jogar. Ser torcedor é estar perto, seja no ginásio ou pela TV, apoiando, mandando energias positivas, confiando, independente de resultado. 

Será difícil dormir esta noite e, talvez, ainda seja por outras próximas. A ferida ainda está aberta, mas irá cicatrizar. A temporada não acabou. Temos um Mundial para vencer. Eu acredito em vocês! Porque esse time, é mesmo OSSO DURO DE ROER! 

(Texto: Andressa Figueiredo)
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